Era
impossível não se lembrar de Rick Blaine naquele momento. Curioso que
por mais anos que se passassem desde a última vez que vira aquele filme
ainda se lembrasse tão bem do nome das personagens. Contudo, não era a
famosa cena do piano que lhe vinha tantas vezes à memória, nem a
inesquecivel melodia, mas sim a cena do aeroporto onde um fleumático e
imperturbável Bogart desejava felicidades a Victor e a Ilsa. Há poucas
dores maiores do que essa manifestação latente de altruísmo. Sabia-o
perfeitamente, de já ter passado por elas mais do que uma vez, umas
vezes com mais sinceridade e dificuldade do que outras. Podem dizer que é
um acto nobre o de abdicar da própria felicidade, de uma das poucas
razões que nos levam a acordar dia após dia com vontade de seguir em
frente, em detrimento da felicidade da pessoa amada. Que se foda a
nobreza! Ela chamara-o de complicado, depois de dizer uma vez mais que o
amava. Ele sabia que era algo mais, para além de todas as desculpas
pouco convincentes que treinara antes de se encontrar com ela. A falta
de coragem não era um acto nobre nem altruísta. Parecia fácil para
Bogart, hipotecar assim a última réstea de esperança e mesmo assim
manter aquela pose que só Bogart tinha e que lhe fazia a ele sentir uma
devastadora e redutora sensação de fragilidade. Os homens não choram.
Bogart não chorava. Mas ele sim. Fê-lo, por dentro, quando ela lhe
perguntou se ele não ía lutar pelo que ambos sentiam. E Rick? Os dois
tinham atirado a toalha ao chão, com a diferença que o outro continuava
ali, imperturbável, com aquele ar de "não estou nem aí" que agora o
irritava solenemente, uma pedra de gelo incapaz de sentir quaisquer
remorsos. Foi nessa altura que compreendeu, tantas vezes tinha visto
aquele filme e nunca dera por isso: Rick não amava Ilsa, não daquela
maneira que ele concebia que o amor devia ser para ser amor, total.
"Play it again, Sam!", que bom seria se a vida fosse uma canção que
pudessemos simplesmente voltar a tocar.
Entre o riso e o choro, o drama da vida ou a comédia a cores ou a preto e branco. A verdade escondida que nos faz pensar e crescer, meras coincidências que nos dizem tanto ou quase nada, momentos bem passados de preferência partilhados, numa boa companhia e num pacote de pipocas.
sábado, 30 de março de 2013
PLAY IT AGAIN, SAM!
Era
impossível não se lembrar de Rick Blaine naquele momento. Curioso que
por mais anos que se passassem desde a última vez que vira aquele filme
ainda se lembrasse tão bem do nome das personagens. Contudo, não era a
famosa cena do piano que lhe vinha tantas vezes à memória, nem a
inesquecivel melodia, mas sim a cena do aeroporto onde um fleumático e
imperturbável Bogart desejava felicidades a Victor e a Ilsa. Há poucas
dores maiores do que essa manifestação latente de altruísmo. Sabia-o
perfeitamente, de já ter passado por elas mais do que uma vez, umas
vezes com mais sinceridade e dificuldade do que outras. Podem dizer que é
um acto nobre o de abdicar da própria felicidade, de uma das poucas
razões que nos levam a acordar dia após dia com vontade de seguir em
frente, em detrimento da felicidade da pessoa amada. Que se foda a
nobreza! Ela chamara-o de complicado, depois de dizer uma vez mais que o
amava. Ele sabia que era algo mais, para além de todas as desculpas
pouco convincentes que treinara antes de se encontrar com ela. A falta
de coragem não era um acto nobre nem altruísta. Parecia fácil para
Bogart, hipotecar assim a última réstea de esperança e mesmo assim
manter aquela pose que só Bogart tinha e que lhe fazia a ele sentir uma
devastadora e redutora sensação de fragilidade. Os homens não choram.
Bogart não chorava. Mas ele sim. Fê-lo, por dentro, quando ela lhe
perguntou se ele não ía lutar pelo que ambos sentiam. E Rick? Os dois
tinham atirado a toalha ao chão, com a diferença que o outro continuava
ali, imperturbável, com aquele ar de "não estou nem aí" que agora o
irritava solenemente, uma pedra de gelo incapaz de sentir quaisquer
remorsos. Foi nessa altura que compreendeu, tantas vezes tinha visto
aquele filme e nunca dera por isso: Rick não amava Ilsa, não daquela
maneira que ele concebia que o amor devia ser para ser amor, total.
"Play it again, Sam!", que bom seria se a vida fosse uma canção que
pudessemos simplesmente voltar a tocar.
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