Entre o riso e o choro, o drama da vida ou a comédia a cores ou a preto e branco. A verdade escondida que nos faz pensar e crescer, meras coincidências que nos dizem tanto ou quase nada, momentos bem passados de preferência partilhados, numa boa companhia e num pacote de pipocas.

sábado, 5 de janeiro de 2013

SOLDIERS GIRL - Um drama real



Soldier's Girl, do realizador Frank Pierson, não é um grande filme a nível comercial, nem podia sê-lo. Com poucos meios, actores ainda pouco conhecidos entre nós e uma história polémica, dificilmente poderia ser um sucesso de bilheteira. 
Calvin Glover - manipulado por Fisher, ataca Winchell quando ele dormia
 Contra-senso ou não, Soldier's Girl é a prova de que não só de blockbusters e orçamentos milionários se podem fazer filmes que nos contam boas histórias, daquelas que nos deixam a pensar mesmo depois do filme terminar.
Winchell e Fisher no filme
 Não é um filme fácil, longe disso, como não era preciso descobrir estar perante uma história verídica para lhe dar credibilidade, tão actual é a sua realidade, mesmo mais de dez anos decorridos sobre os factos do filme. Soldier's Girl conta a história do soldado Barry Wichell (interpretado por Troy Garity), que se apaixona por Calpernia Addams (um fantástico Lee Pace, que poderemos ver brevemente em Marmaduke).
Lee Pace interpreta Calpernia Addams
 Só que esta soldier's girl não é uma mulher qualquer, mas uma transexual que actua numa boite onde o colega de quarto de Wichell, Justin Fisher (Shawn Hatosy) o leva, numa saída nocturna do quartel. A relação entre o par romântico avança, enquanto nos apercebemos das dificuldades impostas pela mentalidade dos colegas, por insinuações maldosas, pelo quanto uma relação dessas pode abalar os alicerces e as  normas do exército dos Estados Unidos, mesmo nos dilemas morais de Wichell que decide avançar, mesmo sabendo que Calpernia não tinha nascido num corpo de mulher e, quando não se importa que ela deixe de fazer a derradeira operação de mudança de sexo
Barry Winchell
. É uma história de amor, não de sexo, uma história destinada a terminar da pior forma, marginalizados por todos e que culmina com um ataque cobarde e enquanto dormia, de um jovem soldado de 17 anos, manipulado por Justin, que dá a ideia de sofrer de um recalcado e unilateral relacionamento homossexual. Winchell sofreu, na madrugada de 5 de Julho de 1999 fortes traumatismos cranianos que lhe deixaram em estado de coma, no qual se manteve até os seus pais mandarem desligar a máquina que o prendia à vida num estado vegetativo.
Calpernia Addams
 Winchell morreu porque cometeu o pecado de amar alguém diferente, como se os sentimentos tivessem de obedecer a regras. Repito que o filme não é nada demais, mas saíndo da ficção para o campo da realidade, apercebo-me que todos estes acontecimentos tiveram lugar em 1999, provocando uma espécie de paranóia sexual, uma espécie de ataque às bruxas, em Fort Campbell e mesmo na América de então, cujo Presidente era Bill Clinton, mas, pergunto-me: e se fosse agora? Se o mesmo sucedesse em 2010, seria diferente? 
 Winchell teria sido tratado de forma diferente pelos colegas? Pelos seus superiores? Calpernia poderia ter outras opções profissionais que não as de cantar numa boite  como a Vision? Numa época em que constantemente batemos com as mãos no peito, orgulhosos pelo progresso, pela liberdade de expressão, por sermos modernos e liberais, sem preconceitos, qual seria a sua reacção se um filho, um irmão chegasse junto de si e apresentasse uma transexual como namorada? Teremos progredido tanto? Teremos aprendido algo ou seria apenas mais uma história de amor triste? Com mais de dez anos, o filme permanece assustadoramente actual, com toda uma comunidade transexual a ser segregada, a ter de viver e amar quase clandestinamente, escondida dos preconceitos de uma maioria raramente silenciosa nos seus comentários mordazes para com tudo/todos que são diferentes. Para quando um amor, uma vida em que não tenhamos de ser separados (distinguidos) por cores, credos, sexos, em que conte apenas quem somos e o que sentimos?
pode ser errado amar?


um a

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