Entre o riso e o choro, o drama da vida ou a comédia a cores ou a preto e branco. A verdade escondida que nos faz pensar e crescer, meras coincidências que nos dizem tanto ou quase nada, momentos bem passados de preferência partilhados, numa boa companhia e num pacote de pipocas.

sábado, 5 de janeiro de 2013

SEGREDOS DE FAMÍLIA

Pode um casal sobreviver a um segredo? Até que ponto será aceitável a existência de segredos entre maridos e mulheres, mesmo quando o conhecimento de determinados factos pode alterar a vida desse par para sempre? Lembro-me perfeitamente de um dia ter discutido com uma pessoa especial sobre até que ponto um acidente grave, uma incapacidade de um elemento do casal, uma doença de um dos filhos, daquelas que permanecem para a vida inteira poderia influir num casamento, na felicidade de duas pessoas que juravam constantemente promessas de amor eterno. Isto a propósito de alguns casais que se separam à primeira contrariedade e de "para sempres" e "até à eternidades" que se revelam sempre demasiado frágeis. Sosseguei-a com a minha resposta, sincera nas minhas convicções. Aliás, não acredito que a maioria das pessoas desse outra resposta, mesmo aquelas que um dia passaram pelo mesmo e acabaram por se separar. Há coisas que só mesmo quem passa por elas, cada caso é um caso, cada pessoa reage de forma diferente e por muito que nos conheçamos raramente conseguimos antecipar as nossas reacções a determinados factos. Já me tinha esquecido desta conversa, ocorrida no interior dum autocarro a caminho do fórum Almada, há coisa de quatro anos atrás, até assistir a Segredos de Família (the memory keeper's daughter), sem maiores expectativas do que teria se fosse ver algum daqueles telefilmes familiares da TVI de fim de semana. Confesso que o elenco - apesar da minha admiração por Emily Watson - não contribuiu para alterar a minha opinião pré-concebida, sustentada convictamente apenas até aos primeiros minutos do filme, que nos agarram desde logo à história e que nos fazem pensar desde logo: "E se?... fosse connosco?". Essencialmente, o filme conta-nos a história de um casal (Dermot Mulroney e Gretchen Mol) nos momentos que antecedem o nascimento do seu primeiro filho. Na ausência do médico, o marido - também doutor - resolve fazer ele próprio o parto, ajudando a dar à luz não um, mas dois bebés de sexos diferentes. O rapaz é uma criança perfeita, enquanto a rapariga sofre do síndrome de Down. Assustado por antecedentes familiares no seu passado relacionados com a doença, o protagonista resolve "esconder" a menina da sua esposa, contando-lhe que não sobreviveu ao parto, entregando a criança à enfermeira (Emily Watson), para que a levasse para um lar. Desta forma, pensava, a família seria feliz, sem os sacrifícios e a possibilidade de uma morte prematura que fizesse desmoronar a harmonia e a felicidade do casal. Todavia, o que o filme nos mostra é um contraste enorme entre a vida do protagonista no seu seio familiar e a da enfermeira, que desobedecendo resolve cuidar da menina como sua filha, e que resulta num drama comovente sem ser demasiado lamechas.

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