Entre o riso e o choro, o drama da vida ou a comédia a cores ou a preto e branco. A verdade escondida que nos faz pensar e crescer, meras coincidências que nos dizem tanto ou quase nada, momentos bem passados de preferência partilhados, numa boa companhia e num pacote de pipocas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A GRANDE FAMÍLIA VIRTUAL



A GRANDE FAMÍLIA VIRTUAL
Poucas vezes expressões como "todos os caminhos vão dar a Roma" ou "como o mundo é pequeno" fizeram tanto sentido como quando aplicadas ao vastíssimo e ilimitado mundo da net. Parece à primeira vista um contra-senso, mas não será tão estranho assim. Quantas vezes já não entraram num outro blogue e constataram que conhecem a maior parte daqueles que o seguem e/ou que o comentam? Não ficaram já com aquela sensação de que, no fundo - por maior que seja a distância que nos separa - somos todos uma família? Numa época em que o indivíduo cada vez mais tende a isolar-se dos outros numa procura de protagonismo tantas vezes estéril ou a padecer de um dos grandes flagelos deste século - a solidão -, há uma maior apetência para se refugiar nas realidades virtuais e a construir aí o seu círculo de amizades, o ombro amigo e confidente nas pessoas que pouco ou mal conhece, como se essa particularidade o protegesse das armadilhas da vida real. As pessoas têm hoje muito medo da realidade, com a crise económica e de valores a influenciar e de que maneira todos os seus relacionamentos e expectativas. Os filhos preferem os computadores e os videojogos ao contacto com os pais, as telenovelas e o futebol dividem os casais e silenciam as antigas conversas à volta da mesa, o dinheiro - esse maldito dinheiro - tomou um papel demasiado preponderante nas relações, onde amar e ser amado já não é só por si suficiente. Tornou-se fácil magoarmos os nossos sentimentos. É aí que entram os irresistíveis e perigosos chat's, os messengers, os blogues e os grupos sociais como o Facebook, o Tagged, o Hi5, a Netlog, o Twitter ou o Orkut dos nossos irmãos brasileiros. Ninguém conhece verdadeiramente ninguém e aí é que está toda a atracção e mistério deste mundo paralelo onde cada vez perdemos mais tempo, gastamos horas em detrimento duma realidade sofrida ou de um tempo passado em família. Despimo-nos virtualmente em confidências alimentadas pela solidão e pela fome de esperança. Depois de meia dúzia de palavras estamos já a contar coisas tão íntimas que alguma inibição sempre nos impediu de contar aos melhores amigos, trocamos fotografias quase sempre verdadeiras, números de telefone, experimentamos o jogo da sedução, há quem seja mais ousado, combine encontros, faça sexo... virtual. Mas o que procuramos afinal? Um verdadeiro amigo? Uma maneira apenas de passar o tempo? Um amor ou um simples flirt? Estaremos a tornarmo-nos a nós próprios em personagens de um enorme jogo virtual, seremos nós os novos Sims? Estaremos a substituir a nossa família e amigos por pessoas que não conhecemos, como os amigos imaginários da nossa infância? Porque desabafamos, por que nos sentimos tão mais à vontade com estes novos amigos/desconhecidos do que com aqueles que conhecemos de anos e anos de convivência? Porque sentimos por vezes como nossas as suas expectativas, carregamos as suas dores, as suas necessidades, ansiamos por fazer parte das suas vidas, procurando a palavra Online à frente de um endereço de email? Estará a vida real a perder protagonismo à medida que as dificuldades económicas e emocionais aumentam ou será a internet uma concha onde nos escondemos, um anti-depressivo deste novo século onde a famosa luz ao fundo do túnel vem agora de uma webcam? Todas as rosas por mais bonitas têm espinhos, mesmo que algumas não nos façam sangrar a pele. Este mundo novo e cheio de potencial pode ser tão maravilhoso quanto o uso que lhe dermos, mas não substituirá nunca a vivência das coisas, dos cheiros. Quem viu "Os Substitutos", protagonizado por Bruce Willis, sabe que a ficção poderá não estar tão distante da realidade como poderíamos pensar.

(extraído de A-voz-das-palavras.blogspot.pt)

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